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COMÉRCIO PROFANO E PERTURBAÇÃO ESPIRITUAL: A SIMONIA NAS SIETE PARTIDAS DE ALFONSO X (SÉC. XIII)

Publié le 15/02/2013

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COMÉRCIO PROFANO E PERTURBAÇÃO ESPIRITUAL: A SIMONIA NAS SIETE PARTIDAS DE ALFONSO X (SÉC. XIII) Michele de Araújo1 [email protected] Resumo Este artigo pretende abordar um tema bastante estudado pela historiografia: a simonia. Entretanto, o objetivo é tentar compreendê-la por uma perspectiva diferente daquela que acentua as características autoritárias e institucionalistas, fruto de um embate entre sacerdotium e regnum. Não se trata de substituir uma interpretação por outra, mas de tornar o panorama mais complexo ao propor que se entenda a simonia por meio da cultura política da época que a gerou, sobretudo com base no modelo corporativo. Para tanto, recorreremos essencialmente às Siete Partidas de Alfonso X (séc. XIII), buscando compreender como a simonia é tratada nesse corpus e também na sociedade medieval Ibérica. Palavras-chave Simonia; poder; Idade Média ibérica Abstract This article intends to approach a very common subject in the historiography: the simony. However, the goal is to understand it from a different point of view from the one that emphasizes the authoritarian and institutional characteristics, born from the conflict between sacerdotium and regnum. It is not about the replacement of interpretations, but to achieve the complexity on the subject by understanding the simony from the point of view of the political culture of that time, especially based on the corporative model. To achieve this goal, we'll use mainly the Siete Partidas de Alfonso X (XIII), trying to understand how simony appears on that juridical corpus and also understand it in the context of the Iberic medieval society. Key words: Simony, Power; iberian medieval times. Introdução 1 Bacharel em História pela Universidade de Brasília. Quando se pretende examinar a simonia num recorte histórico e documental específico - as Siete Partidas - é conveniente explicitarmos a sua natureza e construção. Neste sentido, partiremos do pressuposto que a sociedade cristã que se enfrenta a simonia é de tipo corporativo. Portanto, nosso objetivo é fazer um exercício de interpretação histórica que permita compreender a simonia em seu contexto social, e não apenas institucional. Temos por finalidade propor algumas possibilidades de interpretação que colocam a simonia no âmbito das instituições e do poder político, não como disfunção, mas como função. Tomando por base o modelo corporativo, procuramos captar a relação entre a simonia e o poder. Para levar a cabo tal tarefa, partimos de duas questões: de que forma a simonia se relaciona com o poder político? Como esse poder explica (discursa sobre) a simonia? Poderíamos dizer que normalmente a teoria da sociedade corporativa não é levada em consideração como possibilidade para explicar a simonia, preferindo-se modelos que partem de teorias centralistas do poder, talvez mais fáceis de aplicar quando a intenção é mostrar o desafio à autoridade. Buscamos, portanto, captar a relação entre a simonia e o poder. O presente artigo baseia-se no estudo da lei e da jurisprudência, das lógicas contidas no discurso régio com relação à simonia, no intuito de percebê-la como parte integrante e estruturadora da sociedade medieval ibérica. Então, este artigo pretende ser um estudo das idéias sobre o desvio espiritual, que é a simonia, explicitada por aqueles que, de uma maneira ou de outra, estavam ansiosos por preservar a ortodoxia, e que construíram a diferença entre o mundo correto e o mundo herético de modo a legitimar as instituições a que pertenciam. Simonia: construção de um conceito A simonia não era um pecado novo. Sua origem consiste na opinião de que os dons sobrenaturais e os poderes carismáticos poderiam ser comprados e, mais tarde, a simonia foi assimilada ao ato de comprar ou vender artigos espirituais e sacramentais. Tal concepção propagou-se, acabando por abranger todos os serviços prestados ou solicitados no momento de uma investidura episcopal ou de uma ordenação sacerdotal, sendo catalogada como heresia, posto que confundiu a magia com a graça2. De acordo com as Siete Partidas, o termo simonia advém de Simão, o Mago. Este foi um praticante da magia em tempos dos apóstolos, que inspirava a admiração do povo de Samaria. "Todos, do menor ao maior, lhe davam atenção, dizendo: 'Este homem é o poder de 2 A graça divina é um dom divino só podendo ser concedida pela fé, visto que é de ordem sobrenatural. Tal como Simão o Mago (história narrada no livro de Atos), tende-se a confundir o favor divino com a magia. Dessa associação da graça com a magia é que foi catalogada como heresia. 2 Deus que se chama o Grande'." (At. 8, 10). Supunha-se, portanto, que uma emanação de Deus habitava em Simão, à qual ele devia seus poderes sobrenaturais. Mas, graças a Felipe, o povo de Samaria e também Simão, foram batizados. Os apóstolos, cientes do ocorrido, enviaram Pedro e João para que o povo também recebesse o Espírito Santo. Quando Simão viu que o Espírito Santo se incorporava através da imposição das mãos dos apóstolos, ofereceu-lhes dinheiro dizendo: "Daí-me também este poder para que receba o Espírito Santo todo aquele a quem eu impuser as mãos." (At. 8, 19). Ora, tendo visto Pedro que a intenção de Simão era condenável disse-lhe: "Pereça o teu dinheiro e tu com ele, porque julgaste poder comprar com dinheiro o dom de Deus! Não terás parte nem herança neste ministério, porque o teu coração não é reto diante de Deus." (At. 8: 20-22). Deste episódio originou-se o termo simonia, que designa o comércio de coisas sagradas. Os simoníacos também são conhecidos nas Siete Partidas como Geezitas, um termo de origem bíblica. De acordo com o Antigo Testamento, no livro dos Reis, Giezi era servo de Eliseu, o Profeta. Na história ali narrada, apesar de ser leproso, "Naamã, chefe do exército do rei de Aram, gozava de grande consideração e prestígio junto a seu senhor, pois fora por meio dele que Iahweh concedera a vitória aos arameus" (2RS 5:1-20). O rei Aram enviou por meio do próprio Naamã, uma carta ao rei de Israel pedindo que este curasse seu servo da lepra. Ao ler a carta o rei de Israel rasgou as vestes e disse: "Acaso sou um deus, que possa dar a morte e a vida, para que esse me mande um homem para eu curá-lo de lepra?" (2RS 5,7). Eliseu sabendo do ocorrido mandou chamar Naamã e ordenou-lhe que mergulhasse sete vezes no rio Jordão até que sua carne se purificasse. Naamã obedeceu e ficou curado. Agradecido, quis recompensar o profeta Eliseu, quem, entretanto, recusou as dádivas, despedindo ao feliz general, com todos os dons que trouxera. Contudo, Giezi, movido pela cobiça, correu atrás de Naamã e, mentindo, usou o nome do profeta; pediu vestes e prata. Uma vez de...

« 2 Quando se pretende examinar a simonia num recorte h istórico e documental específico – as Siete Partidas – é conveniente explicitarmos a sua natureza e con strução.

Neste sentido, partiremos do pressuposto que a soci edade cristã que se enfrenta a simonia é de tipo corporativo.

Portanto, nosso objetivo é fazer um exercício de interpretação histórica que permita compreender a simonia em seu contexto socia l, e não apenas institucional.

Temos por finalidade propor algumas possibilidades de interpretação que colocam a simonia no âmbito das instituições e do poder polít ico, não como disfunção, mas como função.

Tomando por base o modelo corporativo, proc uramos captar a relação entre a simonia e o poder.

Para levar a cabo tal tarefa, partimos d e duas questões: de que forma a simonia se relaciona com o poder político? Como esse poder exp lica (discursa sobre) a simonia? Poderíamos dizer que normalmente a teoria da socied ade corporativa não é levada em consideração como possibilidade para explicar a sim onia, preferindo-se modelos que partem de teorias centralistas do poder, talvez mais fácei s de aplicar quando a intenção é mostrar o desafio à autoridade.

Buscamos, portanto, captar a relação entre a simonia e o poder.

O presente artigo baseia-se no estudo da lei e da j urisprudência, das lógicas contidas no discurso régio com relação à simonia, no intuito de percebê-la como parte integrante e estruturadora da sociedade medieval ibérica.

Então, este artigo pretende ser um estudo das idéias sobre o desvio espiritual, que é a simonia, explicitada por aqueles que, de uma maneira ou de outra, estavam ansiosos por preservar a ortod oxia, e que construíram a diferença entre o mundo correto e o mundo herético de modo a legitima r as instituições a que pertenciam.

Simonia: construção de um conceito A simonia não era um pecado novo.

Sua origem consis te na opinião de que os dons sobrenaturais e os poderes carismáticos poderiam se r comprados e, mais tarde, a simonia foi assimilada ao ato de comprar ou vender artigos espi rituais e sacramentais.

Tal concepção propagou-se, acabando por abranger todos os serviço s prestados ou solicitados no momento de uma investidura episcopal ou de uma ordenação sa cerdotal, sendo catalogada como heresia, posto que confundiu a magia com a graça 2.

De acordo com as Siete Partidas, o termo simonia advém de Simão, o Mago.

Este foi um praticante da magia em tempos dos apóstolos, que inspirava a admiração do povo de Samaria.

“Todos, do menor ao maior, lhe davam atenç ão, dizendo: ‘Este homem é o poder de 2 A graça divina é um dom divino só podendo ser conc edida pela fé, visto que é de ordem sobrenatural.

Tal como Simão o Mago (história narrada no livro de Atos), t ende-se a confundir o favor divino com a magia.

Des sa associação da graça com a magia é que foi catalogad a como heresia.. »

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