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Lire Le Clézio sur Internet. La lecture réticulaire, des nouveaux itinéraires et horizons nouveaux

Publié le 14/01/2011

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Ler Le Clézio na Internet. A leitura reticular: novos itinerários e horizontes novos [1]

Lilia Silvestre CHAVES (Université Fédérale de Pará, UFPA, BRÉSIL)

 

Resumo:

A literatura, cada vez mais, ganha espaço no ambiente virtual. Bibliotecas do mundo inteiro instalam arquivos virtuais e disponibilizam versões digitalizadas dos livros impressos. Universidades publicam on-line teses e artigos críticos sobre as obras literárias. Em portais de literatura, nas comunidades digitais, nos blogs e fóruns de discussão, em sites e revistas eletrônicas, autores e leitores – atores principais dos textos – trocam freqüentemente de papéis entre si: a leitura no meio digital, hipertextual (e, portanto, fragmentária e ilimitada), tornou-se gesto, interação, escolha, viva participação. Sem prescindir da leitura do livro de papel, o leitor passou a ter uma nova intimidade com o literário, com as possibilidades de intervir no texto e de traçar seus próprios itinerários de leitura, na direção de horizontes sempre novos. Tendo em vista o uso que se pode fazer das novas mídias no ensino-aprendizagem, particularmente no domínio da leitura, este estudo busca refletir sobre essa nova maneira de ler na era da Internet, fazendo uma leitura reticular do escritor francês Le Clézio..

 

 

Leitura literária na Internet: novos itinerários e novos horizontes

 

Comprendre que quand on écrit les choses elles sont deux ou trois fois

-- Une fois: vues -- une autre fois: écrites -- une troisième fois: lues

                   J-MG Le Clézio

L'inconnu sur la terre p.48

 

Il y a un infini en toutes choses... je suis entraîné vers ce monde. C'est un appel très fort.

Un inconnu sur la terre p.136

 

A história das palavras trouxe-nos a uma nova época – a era da Internet. Não há mais escapatória, a Internet faz parte das nossas vidas agora e sempre. Um filósofo francês, Michel Serres (KROKER; COOK, 1988, p. 189), concebe o nosso tempo sob o signo do deus grego Hermes, mensageiro dos deuses e intérprete das palavras, pela abolição metafórica do espaço e pela velocidade atual das mensagens; pela aceitação da fragmentação, do pluralismo e da autenticidade de outras vozes e outros mundos.

Protetor dos viajantes e dos ladrões, Hermes é o deus das estradas, guardião dos caminhos e de suas encruzilhadas, intérprete da vontade dos deuses e inventor de práticas mágicas. Além disso, Hermes só rouba para repor em circulação, ao contrário de Prometeu. Platão, no Crátilo, faz derivar “Hermes” da palavra grega que significa intérprete (hermeneus). A hermenêutica – no sentido de interpretação – traz à luz tesouros ocultos? O deus de sandálias de asas, como o crítico literário, faz a travessia da escrita, passando pelo furto, pelo comércio, pela magia, pela poesia e pelo saber.

Nessa imensa teia do mundo – a www – eternamente em formação, embaralham-se origens e destinos. A estrada deixa de ser apenas o que liga dois pontos, a estrada é uma teia, feita de caminhos que se bifurcam em encruzilhadas sem fim, temos uma nova imagem do labirinto, o labirinto eletrônico. É um mundo de leitura, na qual podem intervir o acaso, o imprevisto. O que importa é a caminhada, a busca, o movimento para além, mas também, o ir-e-vir, o desvio, o extravio, a transgressão das fronteiras, a perdição, e, às vezes o reencontro, a volta – um sair para uma andança e, se possível, voltar novamente, como na epígrafe de Sagarana, de Guimarães Rosa: For a walk and back again...

Primeiro perigo

Esse é um dos perigos da net, se perder. A aventura de explorar a Internet já é uma atividade de leitura, mas o rumo que a leitura vai tomar depende de circunstâncias inesperadas, de peripécias, de escolhas – é uma viagem de desfecho incerto, com o risco de perder o caminho, de não saber retomar o horizonte perdido, pois a característica mais peculiar da leitura na Internet “reside na não-linearidade, isto é, na escolha permanente oferecida ao leitor entre vários destinos a partir de uma dada página” (SOARES, Novas telas – telas de texto, inédito, no prelo).

É possível saltar entre textos por meio dos links, quebrando-se a seqüencialidade do texto. Isso tem, obviamente, repercussão direta na forma de ler: o leitor diante de uma rede de múltiplos segmentos textuais relacionados entre si, nem sempre por ligações lineares, tem mais possibilidades de traçar seu próprio caminho de leitura, em múltiplas direções, no qual interferências on-line quase sempre acontecem, visto que tem diante de si um permanente convite a escolhas muitas vezes inconseqüentes, no dizer de Marcuschi (2001).

 

Nos hipertextos, há momentos em que se apresentam várias possibilidades de mudança de direção, de modo que o leitor se vê obrigado a eleger, em cada caso, sua rota de leitura. Algumas escolhas, segundo o lingüista brasileiro, não são pertinentes, nem mesmo confiáveis. É preciso “trier”. Peneirar, garimpar, fazer uma triagem, há erros de linguagem, informações erradas... Mas, não se iludam, é claro que na Internet tudo é extremamente rápido (Hermes), mas tudo que existe de inferno ou de paraíso no nosso mundo “fora” da máquina, transferiu-se para dentro dela.

Voltemos à leitura: parece estranho pensar que textos possam ser realmente lidos na tela de um computador, conectado à Internet. Muitos acreditam que somente a leitura efetuada nos livros “permite a relação adequada entre leitor e texto”. No entanto, é possível especular que, hoje em dia, é provável que se leia mais poesia pela web do que nos livros. E mais, poemas e textos são repassados para outros leitores, por e-mail, atingindo públicos inimagináveis pelos processos tradicionais de difusão. Em escala planetária, diria Antonio Miranda, do Portal de Poesia Ibero-americana. Há leitores do mundo todo, o tempo todo consultando as páginas virtuais. Não se pode negar que “há uma correlação muito forte entre a leitura e o uso da Internet”. Mas, é preciso que se entenda que não há concorrência entre a Internet e a leitura, e sim complementaridade: negado ou exaltado, o livro está metaforicamente onipresente todas as vezes em que se fala sobre o texto virtual ou digitalizado.

Em um colóquio virtual text-e – Écrans et réseaux, vers une transformation du rapport à l’écrit?[2] [Telas e redes, rumo a uma mudança da relação na escrita//com a escrita? –, Roberto Casati pronunciou um discurso sobre “O que a Internet nos ensinou sobre a verdadeira natureza do livro”, apresentando a questão sob a forma de dilema: “o formato digital libera o conteúdo [do livro], mas o livro de papel é um produto perfeito”. Ele conclui sobre a natureza dual do livro: os dois pólos conceptuais que constituem o livro físico e o livro imaterial podem perfeitamente coexistir em um produto dual. No mesmo colóquio, com o texto Lecteurs et lectures à l'âge de la textualité électronique – Roger Chartier usa a expressão “textualidade eletrônica” para se referir ao texto escrito e lido na tela do computador. Para ele, as duas formas de livro existirão em uma coexistência «que não será necessariamente pacífica» Ainda segundo Chartier, “os três modos de inscrição e de comunicação dos textos são: a escrita manuscrita, a publicação impressa, a textualidade eletrônica”. Mas, o essencial é sua interrogação sobre “a capacidade deste livro novo para encontrar ou produzir seus leitores”.

Em uma entrevista para a Folha de S. Paulo (31 out. 1998, p. 4-3) sobre livros e Internet, Umberto Eco negou o fim do livro (podemos ler mais sobre isso em http://www.uol.com.br/fsp/ilustrad/fq31109809.htm). Separando os livros de “leitura” dos livros de “consulta”, Eco define os “livros de leitura” como aqueles que pegamos e lemos do início ao fim, e que, segundo ele, vão permanecer para sempre, porque ‘ainda não inventaram nada melhor’, mas são livros que lemos e relemos. Já os “livros de consulta” podem muitas vezes ser substituídos pelos hipertextos, mais eficientes, econômicos e – o que é fundamental – menos espaçosos.

E volto para Chartier (que desde 2007 é professeur titulaire de la cátedra Écrit et cultures dans l'Europe moderne au Collège de France) :

Existe uma coisa que está ficando cada mais vez mais clara a respeito do computador: ele não representa a morte do livro. A tela é apenas uma espécie de novo suporte para os textos, assim como o foram os códices [o livro montado em cadernos]. Por isso eu a considero uma nova revolução. O que está sendo distribuído pelas redes eletrônicas são textos. Nunca o livro e a leitura estiveram tão vivos. Há apenas uma transformação frente aos meios clássicos de transmissão de textos. Enfim, a forma de leitura está mudando mais uma vez. E a revolução é profunda.

 

L'écrit et l'écran, une révolution en marche (Article publié le 13 Octobre 2007, Roger Chartier, LE MONDE - leçon inaugurale au Collège de France. Disponível em :  http://www.maldoror.org/UdeM/FRA2007/Documents/Chartier-%C9crit_%C9cran.htm

 

“Tivemos a tábua, o rolo, o códice, que durou séculos, e agora as telas”. Vivemos as primeiras décadas de uma nova revolução na leitura. Mais uma vez mudou o veículo do texto escrito e, conseqüentemente, mudaram as maneiras de ler e de escrever. Sem prescindir da leitura do livro de papel, o leitor passou a ter uma nova intimidade com o literário, com as possibilidades de intervir no texto e de traçar seus próprios itinerários de leitura, na direção de horizontes sempre novos. E tudo no mesmo espaço, na mesma teia ligada por vias inusitadas, atalhos inesperados, trilhados por olhares interessados e leves toques digitais.

É isso que quero rapidamente mostrar aqui: A Internet se tornou um instrumento de pesquisa indispensável hoje. Pensando no uso se pode fazer das novas mídias no ensino-aprendizagem, tanto eu quis refletir sobre essa nova maneira de ler. E coloquei-me em uma encruzilhada, aqui e agora: sob o título do meu ensaio – Leitura literária na Internet: novos itinerários e novos horizontes – inspirado na pesquisa LER E ESCREVER NA ERA DA INTERNET.

Nós temos vários caminhos a seguir, na leitura reticular dos textos disponíveis na Internet não perdendo de vista o quase invisível fio da aranha-Ariadne. Em uma pesquisa on-line, estamos sempre a mudar de rumo, a tomar atalhos, atravessar portais, cair na pesquisa de outras pessoas, numa liberdade vertiginosa. Às vezes, nos perdemos, tanto os caminhos se bifurcam. Jorge Luis Borges (1899–1986), que tanto criou metáforas sobe bibliotecas e escritas, tem um conto intitulado El jardín de senderos que se bifurcan (1941; Ficciones, 1944), uma metáfora do hipertexto eletrônico: na leitura do ciberespaço, os caminhos se bifurcam e precisamos escolher a direção, e nova e infinitamente, em uma aventura multiplicada ao infinito. No  texto em que eu lia isso, havia um link e eu Não consigo resistir à tentação de ir à procura do conto de Borges: No jardín de senderos que se bifurcan, e, nem bem eu tinha partido para ler sobre o hipertexto que já me detive para ler o início do conto de Borges –

A Victoria Ocamp

         En la página 242 de la Historia de la Guerrra Europea de Lidell Hart, se lee que una ofensiva de trece divisiones británicas (apoyadas por mil cuatrocientas piezas de artillería) contra la línea Serre-Montauban había sido planeada para el 24 de julio de 1916 y debió postergarse hasta la mañana del día 29. Las lluvias torrenciales (anota el capitán Lidell Hart) provocaron esa demora —nada significativa, por cierto. La siguiente declaración, dictada, releída y firmada por el doctor Yu Tsun, antiguo catedrático de inglés en la Hochschule de Tsingtao, arroja una insospechada luz sobre el caso. Faltan las dos páginas iniciales.

 

(para continuar a ler o conto de Borges é preciso enveredar pela teia da leitura, indo pra cá: http://www.libreriahispana.com/borges/jardin.html 

 

Viram só um dos perigos da leitura. É por isso que o professor precisa segurar a ponta do fio que vai desenrolando para marcar o caminho: é bem antiga a metáfora da Ariadne. Precisamos trilhar a leitura na máquina no labirinto eletrônico dos hipertextos tentando estar bem alerta para o nosso objetivo. Por isso é tão diferente a maneira de ler. Mas uma não exclui a outra, a maneira de ler romances e poemas nas páginas impressas do livro. Nesse texto, pretendo mostrar uma possível leitura à maneira das aranhas, em um percurso hipertextual, em que o leitor participa dos textos, mistura os textos e traça um novo itinerário de leitura. Uma leitura reticular e ilimitada, no meio digital da web.

E o que é uma leitura reticular?

Houaiss: reticular - lat. cien. reticularis, voc. adotado em anatomia e biologia desde o sXVI para designar tecidos, estruturas, substâncias, formações etc. com o aspecto de rede, do lat. reticulum ou reticulus,i 'rede de malhas pequenas, redezinha', dim. do lat. rete, retis 'rede'; cp. esp. reticular (sXIX), it. reticolare (sXVIII), fr. réticulaire (1610), ing. reticular (1597); ver red(i)-.[3]

 

 

Vou tentar ilustrar rapidamente :

Imaginem uma estudante, uma leitora: em uma biblioteca, ela corre entre estreitos corredores labirínticos, para aproveitar espaço, agacha-se, estica-se ao procurar alcançar livros cá e lá, enciclopédias, dicionários. Ela quer pesquisar sobre o escritor francês que mais está em evidência no momento: Jean-Marie Le Clézio. O vencedor do prêmio Nobel de literatura 2008, ela viu na televisão, leu no jornal. É claro que não acha nenhuma obra de Le Clézio e nada sobre ele. Abre alguns livros sobre a mesa do estudo. Onde encontrar ensaios sobre esse autor? Com quem trocar idéias sobre ele?

Mas há um cyber ao lado da biblioteca, ela pensa – vou tentar a Internet. Vou experimentar essa leitura, pesquisando, na máquina, diante de uma página vertical. O jardim de sendeiros toma agora uma forma virtual mais nítida: abre-se a página do Google, onde se pode procurar o rumo que se quer escolher. Lá se vai a leitora enveredando pelos hiperlinks.

Figura 1 : http://www.google.com.br/search?hl=pt-BR&q=Le+Cl%C3%A9zio&meta=lr%3Dlang_fr

 

Da lista, à escolha. O primeiro passo foi procurar informações sobre o ganhador do prêmio Nobel deste ano. E ela chegou aqui: Figura 2: http://www.prix-litteraires.net/nobel.php

De todos os prêmios do planeta, o Nobel talvez seja o mais cobiçado.

Ela aqui pode ver as capas dos livros de Le Clézio. Há muitos links a seguir. Mas ela vai adiante, encontra um vídeo com uma entrevista, minutos antes da divulgação do seu nome:

 

Disponível em: http://www.dailymotion.com/video/x70igg_jmg-le-clezio-nobel-de-litterature_news

 

Ela assiste ao vídeo, anota evidentemente alguns depoimentos do escritor e segue em frente (ou seja, procura outros sites de informação:

 

Disponível em: http://bibliobs.nouvelobs.com/blog/la-vie-en-livres/20081013/7773/le-clezio-le-nobel-de-la-faim

De repente, no meio de um fluxo de novidades impiedosamente catastróficas, uma voz surgiu, a de Horacio Engdahl, secretário permanente da academia sueca. Abrindo, como todos os anos, no crepitar dos flashs, a porta de seu escritório dando para uma pitoresca praça da velha Stockholm, ele anunciou o nome do laureado do prêmio Nobel 2008. J.M.G.Le Clézio. Um raio de luz atravessou as nuvens negras. Nós nos pusemos a espiar nos jornais, na televisão e na Internet as aparições do grande homem louro, calmo e refletido, de estatura solar (Aliete Armel)

 

E lá vai ela descobrindo um escritor que confessava, poeticamente, ao escrever L'Inconnu sur la terre : "Je veux écrire pour la beauté du monde, pour la pureté du langage. (...) Je veux écrire pour être du côté des animaux et des enfants, du côté de ceux qui voient le monde tel qu'il est, qui connaissent toute sa beauté...".

Os livros de JMG Le Clézio são jardins eternos. Suas palavras em liberdade trazem a paz. Lê-lo e relê-lo é um luxo que fascina, encanta:

É isso que eu queria [diz o escritor], pintar a luz, a luz pura, sozinha, sem objeto. Eu gostaria de segurá-la sobre os velhos muros, ou nos brilhos do mar, ou ainda no [...] alumínio de um avião muito alto no céu. Gostaria de prendê-la como um pensamento absoluta que vibraria eternamente no éter. A única moeda que eu queria ter: os brilhos brancos, sobre o mar.

 

A distinção, fortemente visível no livro impresso, entre a escrita e a leitura, entre o autor do texto e o leitor do livro, se apaga em proveito de outra realidade: aquela em que o leitor se torna um dos atores de uma escrita a várias vozes ou, ao menos, encontra-se em posição de constituir um texto novo, a partir de fragmentos livremente recortados e reunidos. Isso nós podemos fazer, nós, leitores da idade eletrônica – construir conjuntos textuais originais cuja existência e a organização só dependem de nós. Cuidado, não estou sugerindo que se roube os textos, nada de plágio. Podemos interferir nos textos a qualquer momento, modificá-los, reescrevê-los, criar nossos próprios textos. (Conhece-se uma nova categoria de plágio: o plágio às avessas, quando um autor desconhecido divulga seu texto na net, sob a assinatura de um autor famoso. Essa possibilidade põe em perigo a propriedade literária e o “direito do autor”.[4] Mas isso é outra história).

Todos os “lugares” que ela visita dizem respeito à leitura: um blog no site littéraire da revista Nouvel Observateur. Os livros estão o tempo inteiro presentes. Nossa leitora imagina estar “dentro” de uma biblioteca (como a Bibliothèque de France), consultando seus livros, e que essa biblioteca é apenas “mais um ponto em uma rede estendida no planeta inteiro assegurando a universal disponibilidade de um patrimônio textual por toda parte accessível graças à sua forma eletrônica” (Chartier).[5] E, mais do que “entrar” nas bibliotecas, nós estamos entrando, junto com ela, na vida, na história, na escrita de Jean-Marie Gustave Le Clézio. O prêmio Nobel foi anunciado.

E encontra comentários em blogs, visita jornais... e vai tecendo seu texto (à maneira das aranhas?)

O jornal LE MONDE, do dia 10.10.08, anuncia Le Clézio, Nobel de "la rupture".

O júri do Nobel justifica a escolha do romancista francês, “explorateur d'une humanité au-delà et en dessous de la civilisation régnante", criador de uma “obra de ruptura”, referindo-se ao seu nomadismo, na vida e na obra.

No site, há vários links para serem escolhidos, na continuação da leitura:

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Edition abonnés Thématique : Le Clézio, vingt ans de critiques dans "Le Monde"

 

Mas a estudante se aventura no primeiro, em que um professor julga a escolha do prêmio Nobel:

“Monsieur Frédéric-Yves Jeannet, "écrivain et professeur de littérature", não está contente, Mas não está nem um pouco contente. "Le Nobel de Le Clézio fait rétrograder la littérature française de plusieurs décennies." [faz a literatura francesa retroceder por várias décadas !], escrevia-ele na semana anterior em um artigo publicado na página Debates, do Monde (daté 19-20 octobre). Selon M. Jeannet, Le Clézio n'est pas un "grand écrivain"

(Disponível em : http://www.lemonde.fr/le-monde-2/article/2008/10/24/un-prof-en-colere-par-franck-nouchi_1110872_1004868.html#ens_id=1104666)

Portadora de mais esta informação, que não a agradou, pois ela pretende comprar o mais breve possível, pela Internet, um dos romances do “não tão grande escritor”, ela volta atrás. E no Google, ela encontra um clube de leitores do seu escritor:

 

http://www.associationleclezio.com/

 

A associação dos leitores de Le Clézio, lugar de trocas entre leitores da obra do romancista, uma espécie de clube de leitura, onde é possível inscrever-se como membro e reunir-se com outros fans, discutir on-line, por emails com em fóruns de discussão para melhor conhecer essa obra literária: mais um trecho de um dos seus livros está recortado ali “Quero falar da Dzibinocac, por que esta lenda de um lugar solitário onde se escreve a noite me parece bela. Bela como o quarto de sombra”.

Em todos os sites, jornais e blogs por onde passa, ela talvez nem tome consciência do caráter essencialmente visual da leitura. Mas a dimensão visual da leitura (a dimensão sensorial) está cada vez mais complexa por causa dos multimidia: há sons, imagens, movimento. Isso provoca uma nova presença do domínio do corporal: aguçamos os sentidos e reconquistamos, com a “tecnologia midiática eletrônica [...], uma dimensão essencial da sensibilidade que reinstaura o exercício pleno de nossas capacidades de ver, ouvir, tocar, cheirar e sentir”. O livro e a tela apresentam características técnicas diferentes, de cor, de luminosidade interna e externa. Se as revoluções precedentes da leitura não mudavam as estruturas fundamentais do livro, na revolução que se deu no nosso mundo contemporâneo não aconteceu a mesma coisa. A revolução atual é antes de tudo uma revolução dos veículos e das formas que transmitem a escrita. Nisso só houve uma revolução que a precedeu no mundo ocidental, a substituição do códice ao volumen, do livro composto de cadernos amontoados, ao livro em forma de rolo, nos primeiros séculos da era cristã.

como ler na rede nas bibliotecas sem parede?

O texto eletrônico autoriza, pela primeira vez, a ultrapassar uma contradição que assustou os homens do ocidente : aquela que opõe, de um lado, o sonho de uma biblioteca universal, reunindo todos os livros jamais publicados, todos os textos jamais escritos, e mesmo, com Borges, todos os livros que é possível escrever escolhendo todas as combinações das letras do alfabeto e, do outro, a realidade, por força decepcionante, de coleções, que, por maiores que sejam, não podem fornecer que uma imagem parcial, lacunar, mutilada do saber universal. -- R. Chartier, "Bibliothèques sans murs",  et J.M. Goulemot, "En guise de conclusion : les bibliothèques imaginaires (fictions romanesques et utopies) 1989".

O sonho da biblioteca universal está perto de ser concretizado. Todos os textos escritos podem ser digitalizados. Não existe uma razão teórica que impeça essa biblioteca universal. Uma das faces, ou um dos eixos comuns aos dois projetos da nossa pesquisa é o da “virtualização da biblioteca” no que diz respeito às obras de de escritores do Pará: constituir um fundo de textes électroniques que poderá ser consultado a distância e que poderá ser o objeto de um novo tipo de leitura, na tela do computador.

A comunicação dos textos a distância, que anula a distinção, até então irremediável, entre o lugar do texto e o lugar do leitor, torna possível este sonho antigo. Sem materialidade, sem localização, o texto na sua representação eletrônica pode atingir qualquer leitor dotado do material necessário para recebê-lo. A supor que todos os textos existentes, manuscritos e impressos, sejam digitados ou, dito de outra maneira, que sejam convertidos em textos eletrônicos, é a universal disponibilidade do patrimônio escrito que se torna possível. Todo leitor, lá onde ele se encontra, com a única condição de que seja diante de um computador conectado à rede, que assegura a distribuição dos documentos informatizados, poderá consultar, ler, estudar qualquer texto, qualquer que seja sua localização original.

A escrita eletrônica nos obriga a reconsiderar questões familiares à crítica e à teoria literária a partir da redefinição tanto do objeto crítico (o texto) quanto do ato da leitura.[Jay David Bolter1, 1991 ] Mas não vou tão longe aqui.

Eu quis aqui apenas mostrar a possibilidade fascinante de uma pesquisa online, onde se pode achar quase tudo sobre determinados assuntos (no meu caso, a literatura), principalmente para quem mora em uma cidade cujas bibliotecas não oferecem, por exemplo, livros teóricos e críticos, sobre a literatura de língua estrangeira.

Para ler um romance – de Le Clézio – nada substituirá o livro de papel, impresso e encadernado, percorrido quase linearmente, do início ao fim (é possível pular trechos, reler outros; as notas de rodapé, algumas vezes o índice, podem ser considerados como elementos de um hipertexto, mas em geral a leitura é linear). Mas, em nenhum outro lugar, a não ser na Internet, nossa leitora poderia ler os artigos do Le Monde, os depoimentos do autor antes e depois de saber ser o ganhador do prêmio, e os comentários sobre os seus romances etc?

Sabemos que pesquisar em uma versão-papel de uma enciclopédia e procurar na versão eletrônica são duas experiências muito diferentes. A rede permite uma maior e mais rápida circulação de idéias. A pesquisa encontra-se cada vez mais valorizada. No momento em que se fala em desconstruir, não se pode negar a importância dos intrumentos que temos em nossas mãos, reunindo-nos a todos os que se utilizam deles para, também, nos constituirmos leitores-autores – e mais – para nos tornarmos textos.

Qual é a conseqüência deste estado de coisas no concernente às práticas individuais de leitura, leitura aqui, entendida como pesquisa, como estudo, fragmentária e descontínua? O que tem de particular a leitura de um trabalho profuso em vínculos?

a escrita é destruição de toda a voz, de toda a origem. A escrita é esse neutro, esse compósito, esse obliquo para onde foge o nosso sujeito, o preto-e-branco aonde vem perder-se toda a identidade, a começar precisamente pela do corpo que escreve.     Roland Barthes

 

Pela multiplicação das possibilidades, dos modos de entrada e de interação, os hipertextos perdem sua identidade própria, fundem-se (perdem-se?) nos conjuntos de tetos interconectados  onde os leitores podem circular facilmente e fazer suas escolhas. O leitor não está mais guiado pelas escolhas e interesses do autor, do professor, mas pelo seu próprio interesse. E vai saltando de texto em texto, as circunstâncias só pertencem a ele. E ele pode, na produção do seu texto, acrescentar a sua própria escrita.

Com o instrumento hipertextual, todo o modelo pedagógico que fica invalidado: o canon, o curriculum clássicos se inverteram; o hipertexto não se presta ao curso magistral, não permite a um professor de impor suas referências, nem de dirigir uma discussão: a figura de autoridade deve desaparecer. O hipertexto exige uma pedagogia mais egualitaria mais sofisticada, na qual a velha distinção mestre-alunos, professor-estudantes não funciona mais.

Vamos parar por aqui, assim, de repente, sem dar um fim... para que começar no começo e terminar no fim ?  Têm começo e fim os hipertextos ? Deixamos algumas interrogações... O que a Internet muda na sua leitura? A realização do virtual muda a materialização das idéias? O gestual? A mídia? 

A minha intenção era mostrar as possibilidades de ler e de pesquisar/estudar um assunto particular (que vai dirigir minha intenção) para, passo a passo produzir meu próprio texto, entrelaçando em uma mesma história (minha fala) textos de Le Clézio ou sobre ele, fazer um estudo de suas leituras, de seus usos, de suas interpretações, de seu autor. Para mim, nada mais instigante para ilustrar a leitura de textos lidos na tela, fragmentados, do que um escritor de romances que acabou de ganhar um prêmio milenar (o prêmio Nobel foi instituído em 1901), com uma obra publicada em livros de papel, nos últimos 50 anos. E qual é o resultado na realidade prática do estudo da pesquisa paralelamente à leitura literária?

Pour celui qui écrit le monde n’est jamais connu [...]

É preciso continuar a ler romances !...

Le Clézio

À cata de textos sobre Le Clézio, penetrou a leitora no labirinto eletrônico. Aproximando a lente do olhar, outros sendeiros multiplicam-se nos delicados e tênues fios orvalhados da teia, na frente: hiperhorizontes.

Parti daqui e aqui me detenho para ler o conto de Borges – uma metáfora do hipertexto: O jardín de senderos que se bifurcan...


[1] Lire Le Clézio sur Internet. La lecture réticulaire: des nouveaux itinéraires et horizons nouveaux.

[2] text-e, o primeiro colóquio inteiramente virtual consagrado a explorar o impacto da Internet sobre a leitura, a escrita e a difusão do saber. O colóquio desenrolou-se de 15 de outubro de 2001 até o fim de março de 2002. Disponível em: <http://www.text-e.org/conf/index.cfm?ConfText_ID=6>.

[3] 1. Imprimir forma de rede a; dar formato de rede a; 2. Nas artes gráficas, realizar impressão com retículo ou retícula.

[4] o que, certamente, vai gerar novos estudos e leis. A. Prassoloff, "Le droit d'auteur à l'âge de l'écrit concurrencé", Textuel, nº 25, "Ecrire, voir conter", 1993, pp. l19-129.

[5] CHARTIER, Roger. Du Codex à l'Écran : les trajectoires de l'écrit. Disponível em: http://biblio-fr.info.unicaen.fr/bnum/jelec/Solaris/d01/1chartier.html)

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